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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

O que procurar no Inverno: os musgos

 As plantas estão muito associadas à quadra natalícia: são os azevinhos, os abetos, os pinheiros, as couves, as abóboras, os musgos, e tantas outras que, de uma forma ou outra, entram pelas nossas casas nesta época.


Algumas destas plantas têm vindo a desaparecer e muitas encontram-se já ameaçadas. Os azevinhos (Ilex aquifolium), por exemplo, encontram-se protegidos por lei desde 1989, tendo sido colocados na lista de plantas em vias de extinção (Decreto-lei 423/89 de 4 de Dezembro), sendo proibidos o arranque, o corte total ou parcial, o transporte e a sua venda.

A gilbardeira (Ruscus aculeatus) é outra das espécies muito procuradas nesta época do ano, também com estatuto de proteção especial (Directiva Habitats 92/43/CEE do Conselho, de 21 de Maio de 1992).

No entanto, existem mais plantas ameaçadas que não são protegidas por legislação nenhuma, mas que também devem ser preservadas. Exemplo disso são os musgos. A diversidade de espécies de musgos no nosso país está a diminuir significativamente, havendo já registo do desaparecimento de algumas espécies.

Musgo-parafuso-de-pêlo (Syntrichia laevipila). Foto: Wilder

As principais ameaças a estas pequenas plantas devem-se sobretudo à degradação ou destruição do habitat devido aos fogos florestais, aparecimento e expansão de outras plantas infestantes e consequentemente alteração da cobertura vegetal, à utilização de químicos, ao corte e abate de árvores de grande porte, à alteração do regime hídrico e poluição da água, à colheita massiva.

Os briófitos

Os musgos fazem parte do grupo dos briófitos, assim como as hepáticas e antocerotas.

Os briófitos – do grego bryon, que significa musgo, e phyton, planta – representam o grupo de plantas mais antigo da face da Terra e o segundo maior grupo de plantas terrestres. São chamados de plantas pioneiras porque terão sido as primeiras a colonizar a terra e a sua atividade sobre as rochas permitiu a instalação de plantas mais complexas.

Estas plantas são geralmente verdes, de reduzidas dimensões e sem estruturas complexas, podendo formar colónias extensas. Morfologicamente, não possuem tecidos condutores como as plantas vasculares, e o seu ciclo de vida apresenta uma alternância de gerações.

Por outro lado, apresentam fases de organização intermédias entre os organismos do meio aquático, como as algas, e os organismos que colonizaram o meio terrestre, como os fetos ou as plantas produtoras de sementes.

Há registo de que existem, possivelmente, cerca de 26.000 espécies de briófitos em todo o mundo, pertencentes a cerca de 180 famílias botânicas e a 1.800 géneros de plantas. Destas, mais de 10.000 são espécies de musgos.

Em Portugal Continental há registo de pouco mais de 700 Taxa (incluindo espécies, subespécies e variedades) de briófitos, dos quais cerca de 500 são musgos.

Musgo Bryum capillare. Foto: Wilder

Os musgos não desenvolvem raízes, caules nem folhas, e também não produzem flores nem sementes. Em vez disso, reproduzem-se por meio de esporos. A maioria também não dispõe de estruturas internas para o transporte de água e nutrientes.

As estruturas formadas pelos musgos são diferenciadas em filídios, caulídeos e rizóides – estruturas equivalentes às folhas, caules e raízes das plantas vasculares.

Os musgos são muito procurados nesta época do ano, sobretudo para a montagem e embelezamento de presépios, o que tem contribuído para o seu desaparecimento. É urgente preservar estas pequenas comunidades de plantas para garantir a sua sustentabilidade.

Vamos conhecer um pouco melhor algumas das espécies mais comuns nativas em Portugal, mais fáceis de encontrar:

O musgo-trançado-comum

Musgo-trançado-comum (Hypnum cupressiforme). Foto: Alexis / Wiki Commons

O musgo-trançado-comum (Hypnum cupressiforme), também vulgarmente conhecido como musgo-trança, é uma espécie da família Hypnaceae.

É um musgo pleurocárpico, com cerca de três a dez centímetros de comprimento, pouco aderente ao substrato e que forma extensos e contínuos tapetes de plantas, quase sempre puros.

Apresenta geralmente uma coloração verde-dourada, e os filídios (folhas) são imbricados, falcados, côncavos, com ápices filiformes e dentados, sem nervuras. As sedas são alongadas, com cápsulas cilíndricas, curvadas ou inclinadas.

É um musgo muito comum em Portugal, sobretudo a norte do Tejo. Ocorre também em todas as ilhas dos Açores e no Arquipélago da Madeira.

Esta espécie pode crescer sobre os mais diversos tipos de substratos, na base de troncos, rochas ou solo, bem como sobre outros substratos artificiais. Tem preferência por locais frescos e sombrios e é pouco tolerante à poluição atmosférica.

É uma das espécies mais procuradas na época natalícia para as mais diversas decorações, fazendo parte da maioria dos presépios do norte de Portugal. Tem sido exaustivamente colhido da Natureza, podendo estar ameaçado devido à sua colheita e comercialização descontrolada.

O musgo-capuz-vulgar

Musgo-capuz-vulgar (Orthotrichum tenellum). Foto: Susan Marley / BioDiversity4All

O musgo-capuz-vulgar (Orthotrichum tenellum) pertence à família Orthotrichaceae. É um musgo acrocárpico, de 0,5 a um centímetros de altura, que forma pequenos tufos. Possui filídios lanceolados com as margens recurvadas, de ápice geralmente obtuso e canaliculado (semelhante a um pequeno tubo).

É uma espécie que se encontra quase sempre fértil. As cápsulas são estreitas e estão quase completamente escondidas por um longo capuz verde-claro. Antes de amadurecerem, as cápsulas são verde-claras, tornando-se douradas com a idade.

O musgo-capuz-vulgar é uma das espécies mais frequentes em Portugal, sendo muito comum em todo o território continental. Também ocorre naturalmente na ilha da Madeira e na ilha de São Miguel.

É uma espécie epífita (cresce sobre as árvores), podendo ser encontrada nos troncos de árvores e de arbustos, sendo uma das espécies mais comuns em Portugal. Este musgo é muito frequente em zonas humanizadas, uma vez que é bastante tolerante à poluição atmosférica.

O musgo-sedoso-penado

Musgo-sedoso-penado (Homalothecium sericeum). Foto: Hermann Schachner / Wiki Commons

O musgo-sedoso-penado (Homalothecium sericeum) é uma espécie da família Brachyteciaceae.

É um musgo pleurocárpico, com cerca de dois a seis centímetros de altura, que forma tufos densos e sedosos, verde-dourados, bastante aderente ao substrato.

Os filídios são muito estreitos e em forma de lança, com pregas longitudinais desde a base e ao longo de toda a sua extensão. A nervura termina a meio da folha.

As plantas são frequentemente férteis, normalmente com sedas compridas e de cor vermelha e com cápsulas cilíndricas, muito alongadas.

O musgo-sedoso-penado é muito comum em Portugal Continental, sobretudo nas regiões do Norte e Centro. Também surge naturalmente nos arquipélagos da Madeira e Açores.

Habita sobre troncos, especialmente de árvore adultas, em bosques de carvalhos ou em rochas expostas, geralmente calcárias. Está presente em ambientes bastante abertos e expostos.

O musgo-parafuso-de-pêlo

Musgo-parafuso-de-pêlo (Syntrichia laevipila). Foto: Michel Langeveld / Wiki Commons

O musgo-parafuso-de-pêlo (Syntrichia laevipila), também vulgarmente conhecido como musgo-capuz-vulgar, é uma espécie da família Pottiaceae.

É um musgo acrocárpico, com crescimento ereto até um a dois centímetros de altura. Forma tufos em forma de roseta, mais ou menos densos.

Possui filídios ovados, espatulados, de ápice obtuso, com uma nervura central que termina num pêlo longo, levemente espinhoso. Tem cápsulas cilíndricas, quase sempre presentes.

O habitat preferencial destes musgos são as árvores, sobretudo os carvalhos e oliveiras. É uma espécie muito comum em zonas humanizadas, como parques e jardins, sendo muito tolerante à poluição atmosférica.

O musgo-parafuso-de-pêlo é uma espécie particularmente curiosa, pois em zonas poluídas tem tendência a desenvolver gemas com mais frequência, ainda que nem sempre esteja fértil, e em zonas menos poluídas frutifica mais facilmente.

É uma espécie muito comum em Portugal Continental e no Arquipélago dos Açores, e também está presente na Ilha da Madeira.

O musgo-rabo-de-gato

Musgo-rabo-de-gato (Leucodon sciuroides). Foto: Hermann Schachner / Wiki Commons

O musgo-rabo-de-gato (Leucodon sciuroides) pertence à família Leucodontaceae.

É um musgo pleurocárpico, que forma tufos amplos e extensos pouco aderentes ao substrato, com plantas que podem crescer até sete centímetros de altura.

Possui filídios ovado-lanceolados, de ápice agudo levemente dentado, sem nervura, de cor verde-escuro ou amarelados. As plantas encontram-se geralmente férteis e formam sedas longas, com cápsulas ovóides ou cilíndricas.

O musgo-rabo-de-gato vive sobre os troncos de árvores, com maior incidência nas árvores adultas, em bosques de carvalhos e oliveiras. Também pode desenvolver-se sobre as rochas. É uma espécie sensível à poluição atmosférica e uma espécie indicadora de qualidade ecológica.

É bastante vulgar em Portugal Continental, sobretudo a norte, e também nos arquipélagos da Madeira e dos Açores.

Espécies “Pouco preocupantes”, mas…

Estas são apenas algumas das espécies de musgos presentes em Portugal, todas classificadas como Pouco Preocupantes pela IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza. No entanto, a sua preservação deve ser mantida de forma a não se atingirem níveis de preocupação maiores.

Segundo os dados mais recentes, cerca de 29% das espécies de musgos em Portugal já se encontram ameaçadas ou quase em risco, o que inclui as espécies Criticamente em Perigo, Em Perigo, Vulneráveis e Quase Ameaçadas.

Os musgos, e os briófitos no geral, são organismos pioneiros com um papel vital na regulação dos ecossistemas, pois contribuem para a formação, estabilização e recuperação do solo.

Estas plantas são capazes de armazenar e absorver água numa quantidade até 20 vezes o seu peso, impedindo a erosão dos solos durante a época das chuvas, e libertando-a lentamente para o ambiente, durante o tempo mais seco. Esta capacidade de gestão beneficia as outras plantas que vivem ao seu lado, fornecendo-lhes água e nutrientes que conseguem absorver.

Os musgos são o habitat de muitas outras espécies de flora e fauna e funcionam como excelentes indicadores de poluição e de biodiversidade. A presença de grandes quantidades de musgos num determinado local indica igualmente a presença de muitos outros organismos, assim como níveis de poluição menores.

O crescimento destas plantas é muito lento e a sua reposição pode levar anos, por isso, evite a sua colheita.

E se já tiver colhido musgo, saiba que o pode conservar de um ano para o outro. Basta para isso guardá-lo envolvido em papel e, umas semanas antes de o voltar a utilizar, expô-lo à claridade e regar. Vai ver que o musgo não morreu.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Taxon (no plural taxa) – nível taxonómico de um sistema de classificação científica de seres vivos (Ex. Família, Género, Espécie, Subespécie).
Filídio (folha) – órgão fotossintético aderente ao eixo, formado por uma lâmina, geralmente com uma única camada de células, sem epidermes, sem estomas, com ou sem nervura.
Caulídeo ou caulóide (caule) – eixo principal dos musgos, onde se inserem os filídios.
Rizóide (raiz) – estrutura filamentosa semelhante a uma raiz, que tem a função de fixação da planta ao substrato.
Pleurocárpico – briófito que cresce prostrado. O caulóide é prostrado, com ramificações laterais, com o esporófito ao longo do eixo ou dos ramos, de crescimento ilimitado.
Imbricado – filídios muito próximos, geralmente sobrepostos como telhas ou escamas de peixe.
Falcado – curvado como a lâmina de uma foice.
Seda – estrutura em forma de haste, que liga a base do musgo à cápsula (esporângio) onde são produzidos os esporos.
Cápsula –  estrutura anatómica no interior da qual se produzem os esporos.
Acrocárpico – briófito que cresce perpendicularmente ao substrato. O caulídeo ou caulóide é erecto, sem ramificações laterais, em forma de roseta ou tufos, com o esporófito no ápice do caulídeo.
Esporófito – estrutura fixa produtora de esporos, formada pelo pé, seda e cápsula.
Epífita – que cresce sobre o tronco ou ramos de árvores, de arbustos ou de outras plantas.

Carine Azevedo

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