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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Cabeceira românica da igreja de Castro de Avelãs (Bragança) – Singular românico de ladrilho em Portugal

Igreja de Castro de Avelãs

A Igreja de Castro de Avelãs é um outro local que deve conhecer no seu roteiro do românico do Nordeste Transmontano.

Em dois dias pode visitar com serenidade este rico património onde também se integram alguns castelos e suas torres de menagem como (Algoso, Ansiães e Penas Róias) e ainda a igreja românica das Malhadas em Miranda do Douro e a igreja de São facundo em Vinhais. Sem dúvida que aqui temos um magnífico conjunto que mereceria ser englobado num pacote turístico singular.

O Mosteiro de Castro de Avelã foi um grandioso monumento que o tempo e a incúria dos homens aos poucos foram desmantelando. O cenóbio beneditino que já existia no século XII e era uma farta instituição, desfrutadora de múltiplas rendas. Quiçá esta fosse a instituição religiosa mais poderosa de Trás-os-Montes durante o período medieval.

Em Março de 1387 o mosteiro recebeu como hóspede o duque de Lencastre, com a sua comitiva, na antevéspera do seu encontro com D. João I, no planalto de Babe, no âmbito do casamento da sua filha -D. Filipa de Lencastre – com o rei português. O duque inglês fazia-se escoltar de um milhar de guerreiros, alguns deles experimentados na célebre batalha de Crécy.

O mosteiro foi extinto por uma bula do papa Paulo III, datada de 1543, e vinculado à recém-criada diocese de Miranda do Douro. A mudança dos bens fez-se no ano seguinte, ficando a sua administração entregue aos frades do mosteiro, com a obrigação de enviarem para a Sé mirandesa o quinhão das rendas estipulado. As dependências do mosteiro foram derribadas e alguns dos materiais reaproveitaram-se em empreitadas de carácter religioso que sucediam na cidade de Bragança.

Com o suceder do tempo, o mosteiro e a igreja de Castro de Avelã foram votados ao abandono e praticamente desapareceram, exceção feita à notável cabeceira românica da igreja.

A Cabeceira românica da Igreja de Castro de Avelãs é singular em Portugal

A cabeceira da igreja do Castro de Avelãs é composta por três capelas redondas -uma ábside e dois absidíolos – em estilo românico-mudéjar. A singular cabeceira é revestida a tijolo ladrilhado, e rematada por fiadas de tijolos em ziguezague. A capela-mor apresenta três registos de arcadas cegas, com duas frestas nas arcadas inferiores. Os absidíolos apresentam dois registos de arcadas cegas. A utilização exclusiva do tijolo no crescimento das paredes e o continuado preenchimento das superfícies curvas das paredes com arcadas cegas, três registos na capela-mor e dois nas colaterais, relacionam esta construção com outras de estilo mudéjar que se ergueram em terras de Leão e Castela, especialmente no importante foco de Sahagun com destaque para a Igreja de S. Lorenzo de Sahagum e em geral, na região compreendida entre Toro e Segóvia. A igreja de Castro de Avelãs foi gizada para ter naves de três naves que, provavelmente, não chegou a alcançar.

Posteriormente, já no século XVIII, foi-lhe acrescentada uma nave retangular, com a sacristia adossada ao absidíolo esquerdo.

O misterioso túmulo do Conde de Ariães

No interior de um dos absidí­olos, agora aberto no exterior, abriga-se em interessante arcaz tumular granítico, com tampa de formato prismático onde se inscreve uma data trecentista e que se crê ser o de dom Nuno Martins de Chacim, um homens poderosos de Trás-os-Montes e até mesmo do reino de Portugal no século XIII. Por exemplo Foi um Rico-homem e aio do Rei D. Dinis, teve a tenência de Bragança entre 1265 e 1284. Exerceu em 1261 e 1276 o cargo de Meirinho-mor e entre 1279 e 1284 foi Mordomo-mor da casa de D. Afonso III de Portugal.

São ainda lendárias as suas usurpações forçadas e em sangue para conquistar o séquito e poderio que alcançou em vida. Dom Nuno também era conhecido como o Conde de Ariães.

Antes de terminarmos o nosso périplo pela igreja de Castro de Avelãs, quero deixar-lhe apenas mais algumas anotações:

- Repare leitor amigo, numa estranha torre gótica quadrangular com cerca de uma dezena de metros de altura, em alvenaria de granito, rematada por um campanário com um sino, que faria parte das instalações monacais. A torre era mais alta e, na parte terminal do século XVIII e começos do século XIX, diminuiu-se-lhe a altura e adaptou-se-lhe um modesto campanário. Adjacente a esta construção está a residência paroquial que dada ao desleixo, preserva nos seus baixos vestígios românicos

Os Guardiões do Mosteiro de Castro de Avelãs

- O adro é murado e acedido frontalmente por portão férreo, rematado por cruz latina, flanqueado por pilares de cantaria de granito, encimados por duas figuras zoomórficas, deitadas, talvez leões que parecem guardar todo aquele conjunto. Os Leões estão associados à força e nobreza. É comum encontrá-los nas entradas principais de templos religiosos exercendo a função de guardiões do templo, como se alertassem o observador que aquele local é sagrado e restrito. Na bíblia, pode assumir um caráter positivo (como o leão de Judá, os leões do trono de Salomão ou o leão de São Marcos) ou ter uma imagem negativa, como os leões que Daniel tem de enfrentar. Estranho é todos os roteiros turísticos que li não fazerem referência a tal facto.

Em escavações arqueológicas recentes num terreno agrícola contíguo à Igreja de Castro de Avelãs, foram descobertos o claustro, as alas conventuais e algumas salas do antigo Mosteiro Beneditino, que terá sido erguido na aldeia durante o século XIII. Os arqueólogos também encontraram espólio da Época Romana, que estariam relacionados a via que ligava Braga a Astorga e que passaria próximo desta zona onde, posteriormente, foi construído mosteiro. Entre os vestígios encontrados destaca-se objetos de cerâmica, moedas e uma lápide funerária que remontam à época entre os séculos I e V.

Estas escavações podem agora ser observadas com alguma minúcia no lugar. Todo este espaço deveria ser transformado num espaço museológico para ativar a aldeia através do turismo cultural.

– Um conselho que lhe dou amigo viajante é que quando visita um lugar destes deve reparar em redor, nos montes, porque em alguns deles podem existir os chamados castros, com valor para a sua imaginação e mais ainda para estima dos cientistas. É o caso deste lugar.

Castro de Avelãs seria a capital dos Zoelas?

Também um morro aqui perto designado por “Cabeço do Castro (ou “Torre Velha”, microtopónimo que desde logo alertará para antiga e desaparecida construção defensiva de certa imponência) tem vindo a surgir, desde o último quartel do século passado numerosos e valiosos testemunhos arqueológicos de época proto-histórica (Idade do Ferro, sobretudo) o do domínio romano, abrindo-se ainda a possibilidade de o local manter uma continuidade ocupacional ao longa da Alta Idade Média. São particularmente numerosos e interessantes os achados epigráficos de época romana, respeitantes ao antigo povoado fortificado castrejo e suas imediações: umas sete ou oito estrelas funerárias (ou fragmentos das mesmas), três marcos miliários e outras tantas aras votivas (materiais depositados, em grande maioria, no Museu Abade de Baçal, embora uma ou outra peça se exponha em Guimarães, no Museu da Sociedade Martins Sarmento).

Numa das aras surge o nome do povo dos Zoelas, se assim esta importante povoação poderia ser a capital dos Zoelas, grande povo fazedor de linho, já referido por Plínio, povo que nos deixou estelas funerárias decoradas com suásticas circulares, simbolizando o Sol, e com desenhos de animais como o porco e o veado.

Original AQUI.

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