Dificuldades transversais ao país mas mais evidentes nas regiões envelhecidas, como esta, destaca José Soeiro, do grupo:
“Existe esta grande discrepância entre os cuidados que as pessoas precisam, porque estamos numa sociedade em que, felizmente, vivemos até mais tarde mas isso também traz problemas de maior dependência e necessidade de cuidados.
Ao mesmo tempo continuamos a ter um tipo de resposta que atira muito para cima das famílias a responsabilidade de cuidar e distribui pouco os cuidados, quer pelo conjunto da comunidade, quer por respostas públicas.
Essa carência existe um pouco por todo o lado mas em regiões mais envelhecidas e naquelas onde existem menos rendimentos, mesmo as respostas presentes não são acessíveis porque as pessoas não têm como pagar.
O que fizemos aqui foi teatro-fórum com o qual montámos uma cena que representou uma situação real, em que existe uma dificuldade e um problema Depois dessa apresentação perguntámos às pessoas o que fariam se o estivessem a vivenciar.”
Junto da população de Vale de Prados o grupo encontrou casos reais, que deram o seu contributo para a peça e relataram problemas já vivenciados, referem Francisca Matos e Sofia Freitas, do Laboratório Teatro-Fórum:
“Antes do teatro também já tínhamos perguntado às pessoas se se identificavam com estes problemas e reconhecemos que, de facto, afeta a maior parte das pessoas que assistiram à peça.
Os presentes deram ideias de como mudar as situações que presenciavam e, dessa forma, pudemos todos participar e tentar encontrar soluções.”
“O que é interessante é que é só com esse contributo é que a peça fica melhor porque é partir das ideias que nos vão sendo dadas que a vamos adaptando. Não está fechada e vai sempre sendo contruída consoante as reações e contributos que cada público dá.”
Entre os presentes encontrámos Isabelina Carvalho, que foi obrigada a colocar a mãe num lar privado, por ter ficado doente, o que a impossibilitou de lhe continuar a prestar em casa os cuidados que a idosa requer.
Mas por lhe ficar caro, vê-se obrigada a voltar a levá-la para casa e gostava de poder contar com mais ajudas do Estado, o que já no passado não aconteceu:
“Sinto que deveria haver muita mais ajuda, até mesmo umas palavras de conforto que não temos.
Fui pedir ajuda à Segurança Social quando fiquei muito doente, pedi que ajudassem a pôr a minha mãe num lar mas não fizeram nada.
Continuei com a minha mãe em casa e sofri muito para tratar dela.
Esta peça foi muito importante pois aprendi mais, caso precise novamente de pedir ajuda.”
Teresa Matos já teve ao seu cuidado um idoso e também trabalhou num lar.
Conta que em ambas as situações encontrou dificuldades:
“Como cuidava do senhor sozinha era muito difícil ter de o movimentar, por ser muito grande.
Acho que o papel do cuidador informal é um pouco desvalorizado no nosso país, até mesmo nos lares. Já trabalhei num durante 10 meses e não foi fácil, os apoios também são poucos.”
Desde janeiro deste ano que o Estatuto do Cuidador Informal foi alargado a todo o território continental português, depois de durante cerca de um ano ter funcionado num sistema de projetos-piloto, circunscritos a 30 concelhos.
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