“As actuais estimativas da tendência populacional sugerem que a coruja-das-torres, o mocho-galego, o mocho-d’orelhas e o alcaravão sofreram um declínio acentuado nos últimos 12 anos”, indica o último relatório do Noctua Portugal, um programa de monitorização desenvolvido pelo Grupo de Trabalho sobre Aves Nocturnas, no âmbito da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).
Em causa estão os resultados obtidos por dezenas de voluntários desde o final de 2009, quando começaram as contagens do projecto, e a época que terminou no ano passado.
O diagnóstico preocupante para estas aves prende-se com “uma tendência negativa continuada e estatisticamente significativa”, explica um dos coordenadores do Noctua, Rui Lourenço. “Em termos do censo, isso significa que a espécie foi detectada em menos pontos de escuta ao longo do período de amostragem e que o número de indivíduos detectados é em média decrescente ao longo do tempo.”
Mocho-galego (Athene noctua). Foto: El Golli Mohamed/Wiki Commons |
Não se conhecem ainda com rigor todas as razões para este decréscimo, até porque o Noctua se dedica apenas a estimar tendências, mas Rui Lourenço avança com o que já se sabe sobre as principais ameaças. Desde logo, “as alterações das paisagens agrícolas mais tradicionais, que nuns casos mudam para matos ou florestas – por abandono ou conversão – e que noutros casos mudam para áreas agrícolas com práticas intensivas”.
“Estas alterações das paisagens agrícolas reduzem os elementos necessários para a ocorrências destas aves”, nota o mesmo responsável, que é também investigador na Universidade de Évora. E o que fica a faltar? “Habitats abertos com aptidão para estas aves nocturnas se alimentarem, presas (micromamíferos e invertebrados) em abundância suficiente e também a disponibilidade de locais de nidificação, que variam consoante a espécie.”
Mocho d’orelhas (Otus scops). Foto: Malivoja/Wiki Commons |
Ainda assim, apesar da tendência negativa, estas aves nocturnas continuam a ser “relativamente comuns” em Portugal. E por isso, o seu estatuto de conservação, que determina o risco de desaparecerem do território nacional, poderá manter-se para já inalterado.
Mas também não basta ficar de braços cruzados. O que é preciso é recolher mais dados sobre a coruja-das-torres, o mocho-galego, o mocho-d’orelhas e o alcaravão, uma vez que “estas tendências são sempre um sinal de alarme”. É necessária “uma análise mais detalhada da tendência populacional, da tendência da área de distribuição, das estimativas dos efectivos populacionais e dos factores de ameaça.” “A conjugação desta informação é essencial para definir estatutos de conservação de forma robusta”, sublinha o investigador.
Alcaravão (Burhinus oedicnemus). Foto: Artemy Voikhansky/Wiki Common |
Coruja-do-nabal (Asio flammeus). Foto: Ólafur Larsen/Wiki Commons |
Bufo-pequeno (Asio otus). Foto: Piet Reens/Wiki Commons |
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