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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 22 de janeiro de 2022

A Pátria Nova – um jornal Bragançano ao serviço dos ideais republicanos

A Pátria Nova viu a luz do dia pela primeira vez em janeiro de 1908 e sobreviveu até 1915, tendo sido o jornal bragançano da Primeira República com maior duração – no final da Monarquia interrompeu, durante alguns meses, a sua publicação, que retomou após 1910.

Primeira página de A Pátria Nova, edição de 9.7.1909
O seu fundador foi o professor do Liceu Nacional de Bragança, João de Freitas, um republicano convicto, 
que por esse facto foi perseguido pelo regime monárquico, tendo sido impedido de ingressar na Academia Politécnica do Porto. Após a queda da Monarquia, foi nomeado Governador Civil de Bragança, cargo em que se manteve durante primeiros oito meses do novo regime, tendo sido substituído, neste cargo por um seu irmão, que era juiz de Direito em Moncorvo.
Nos primeiros números, o nome de João de Freitas aparece como diretor do jornal, embora mais tarde, Júlio Rocha, quando deixou as funções de diretor do mesmo em janeiro de 1911, venha dizer que foi sempre ele, de facto, o diretor de A Pátria Nova nos três primeiros anos da sua existência, o que não provoca qualquer estranheza porque, no século XIX e nos primeiros anos do século XX, muitas vezes, os nomes que apareciam no cabeçalho como diretores eram os proprietários e os responsáveis pela fidelidade do jornal à linha político-partidária com que estavam alinhados.
O nome de Júlio de Rocha aparece como diretor apenas em 1910 e em janeiro do ano seguinte é substituído pelo doutor António Quintela, professor do Liceu.
Como proprietário, desde a sua fundação até janeiro de 1911, aparece o nome de José António Rodrigues de Paula. A partir de 27 de janeiro de 1911, a propriedade deste jornal passou para a Comissão Municipal Republicana.
Um dos colaboradores de A Pátria Nova foi Augusto Moreno, uma figura das mais importantes da cultura brigantina na primeira metade do século XX, juntamente com Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal. Tanto antes como depois da implantação da República, nalguns números deste jornal, o editorial era da responsabilidade de Augusto Moreno, como teremos ocasião de documentar mais à frente.
Se quiséssemos traduzir num único conceito o conteúdo editorial de A Pátria Nova, diríamos que o mesmo se resume ao combate do caciquismo religioso, político, económico e social, que atingira a sua expressão máxima durante o regime monárquico. Destes, o caciquismo religioso era apontado frequentemente como a causa principal da grande maioria dos problemas do País.
Nestes termos, a cada passo nos aparecem textos a denunciar um claro anticlericalismo, exacerbado num antijesuitismo que podemos de alguma forma classificar de primário. Assim, em várias edições, surgem nprimeira página alguns textos demonstrativos do que acabámos de escrever. É o que acontece em junho de 1909, numa secção intitulada “Guarda-joias”, em que são publicados, em pelo menos duas ocasiões diferentes, textos assanhados contra os jesuítas, um deles transcrevendo Oliveira Martins, na sua História de Portugal.


Outros textos contra os jesuítas vão aparecer nas primeiras páginas deste jornal. O texto citado marca o tom de muitos outros, contra a influência do clero nas consciências das gentes iletradas das nossas aldeias, e da própria Igreja, que estaria ao lado da Monarquia e dos mais poderosos, defendendo as prepotências e a tirania.
Depois da implantação da República, sucedem-se os textos do mesmo teor, como se verifica, por exemplo, e sem ser caso único, através de uma correspondência enviada de Mogadouro em 25 de novembro de 1910: “Alguns padres deste Concelho, estúpidos e boçais, andando a intrujar os seus paroquianos, fazendo-lhes crer que a República é um regime diabólico que pensa em destruir os templos e muitas outras coisas que provam bem a imbecilidade de quem as inventa, levaram o digno administrador deste Concelho a chamar à ordem os velhacazes que mais se têm salientado na propaganda contra o regime constituído. Uma vez na presença da autoridade, eles, que nas suas freguesias se apresentam com ares de quem todo lo manda, desfizeram-se em justificações, pedindo mil desculpas e prometendo não mais voltar a meter minhocas nos cérebros incultos dos seus paroquianos.”
Em outubro de 1910, através de uma argumentação rebuscadíssima, este jornal vai tentar justificar a perseguição ao clero em geral e aos religiosos em particular.

António Pires Quintela, antigo diretor de A Pátria Nova

No capítulo da informação, A Pátria Nova não possui critérios que a distingam significativamente dos outros jornais da época. A notícia era, com raras exceções, escassa, pessoalizada e centrada nas amizades dos redatores.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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