“Durante milhares de anos, o homem guiado pelo mesmo instinto que hoje leva outros animais a se purgarem com certas ervas escolhidas, ele seleccionava na natureza os vegetais para a cura dos seus males.
E, ao organizar-se em comunidades começa a transmitir às gerações futuras o “fruto do saber” — os celtas, nossos remotos antepassados, conheciam perfeitamente as propriedades das fontes termais e são imitados pelos legionários romanos;
os chineses e os egípcios ensinaram as propriedades do ópio, da romã, do ruibarbo;
os gregos e os romanos definiram a utilização das sementes de rícino, da beladona ou da misteriosa mandrágora;
os gauleses trouxeram o conhecimento do visco-branco da verbena, da centáurea, da milfurada, do meimendro e da salva.
Entre fitoterapeutas, clérigos e alquimistas foi-se então desenvolvendo o estudo das plantas medicinais e, passados assim os séculos, chegamos agora ao que se convencionou chamar a época moderna — com o fim do reino dos “remédios naturais”.
Contudo, novas correntes científicas e de forma de vida, uma espécie de regresso às origens e à natureza, configura-se entre a actual classe médica, botânica, farmacêutica ou ambientalista que prima pela valorização do melhor de cada sistema medicinal, tendo em atenção os perigos de qualquer um dos métodos.
Que assim seja. “
Tisanas e outros remédios
Chá de alecrim – Quinze gramas para um litro de água fervente; coa-se quando frio e toma-se em média três vezes ao dia, para: `
– estimular o apetite, a circulação sanguínea e as funções do pâncreas
– dores de estômago, dores de cabeça de origem nervosa, vertigens e perda de memória
– contra a queda do cabelo
– tonificante para os estados de depressão
– estimulante cardíaco e combate as pressões altas
– para afastar os “maus olhados”
Nota: [a chá de alecrim] não deve ser usado por mulheres grávidas, por poder ser abortivo
Para atenuar os sintomas da menopausa – Beber uma infusão das extremidades floridas do hipericão, três vezes por dia.
Para combater as constipações e as gripes – Beber frequentemente chá quente de flor de sabugueiro e hortelã-pimenta.
Dores de cabeça e nevralgias – Tomar uma chávena de chá de betónica três vezes por dia.
Para dores reumáticas – Misture uma colher de chá de óleo de alecrim numa chávena de chá com azeite — massaje a região dolorida várias vezes ao dia.
Não passe uma noite sem dormir!
Para a insónia – Duas colheres de sopa de folhas secas de cidreira num copo de leite; aquecer e adoçar com mel. O sono vem mais rápido.
Para as inflamações dos olhos – Lavar os olhos com uma infusão de água das malvas a que se adicionou uma clara de ovo de galinha.
Contra as varizes – Ingerir duas a três vezes por dia uma infusão de trigo-sarraceno, pilriteiro e castanheiro-da-índia.
Para as depressões – Infusão de flores de alfazema, combinada com alecrim, tomada três vezes ao dia.
Combater as frieiras – Usar pomadas de flor de sabugueiro.
Para o desconforto das ressacas – Chá quente de hortelã-pimenta ou serpão; chá de flor de sabugueiro.
Para a tosse e bronquite – Xarope de agrião – Num litro de água deite mais ou menos duzentos gramas de agrião (folhas e talos) e deixe ferver cerca de um quarto de hora. Coe enquanto estiver quente e quando ficar morno, misture-lhe uns trezentos gramas de mel. Dá para a tomar uma colher de sopa duas vezes ao dia.
Nota: O agrião é a “erva para todos os fins”, visto pelo nosso povo como um dos melhores estimulantes e espectorantes, até com virtudes afrodisíacas e não menos utilizado como tónico (o seu sumo) contra a queda de cabelo ou misturado com mel para as manchas e sardas.
Síntese de usos medicinais das ervas
Do alecrim às hortelãs
Alecrim – Auxiliar da memória; para estados depressivos; estimula a circulação sanguínea; ajuda a fazer a digestão das gorduras (folhas); problemas de fígado.
Agrião – Para a tosse e bronquite; contra as anemias por carência de ferro.
Arando (ou uva-do-monte) – Para o colesterol e triglicéridos.
Alfazema – Alivia as dores de cabeça e acalma os nervos (flor); anti-séptico contra a acne (flor); tranquilizante.
Arruda – Lavagem do estômago; fortalecimento da visão; para lavar os olhos cansados (folha); antídoto contra certas mordidelas de cobras.
Borragem – Em dietas sem sal (folha); para o catarro e gripes; tranquilizante; depurativa e refrescante.
Erva-cidreira – Alivia o catarro provocado pela bronquite crónica; as constipações febris e as dores de cabeça (folha).
Erva de São Roberto – Para doenças do estômago.
Carqueja – Facilita a digestão e estimula a secreção da bílis; acção antibiótica; infecção da bexiga; pedra nos rins; para a arteriosclerose: hipertensão arterial; sinusite, bronquite, anginas e tosse.
Funcho – Estimulante do apetite; auxiliar da digestão; desinflamar as pálpebras e melhorar a visão; suavizar o hálito (sementes).
Nota: não usar em doses excessivas
Hipericão – Para atenuar os sintomas da menopausa; queimaduras menores do sol (óleo); para libertar a tensão.
Hortelãs – Prevenções de constipações e gripes; inflamações da garganta; tranquilizante; ajuda a digestão; para as lombrigas
Do louro ao poejo
Louro – Para enjoos e irritações nervosas, para abortar; para bronquites; ajuda a fazer a digestão e estimula o apetite (folha).
Nota: todos os loureiros, excepto o loureiro vulgar, são venenosos
Malva – Actua como laxante não agressivo; combate muitos problemas inflamatórios; usada para emagrecimentos.
Morangueiro-bravo – Para os nervos e contra a diarreia (folha) . – Em decocção, é um adstringente suave (fruto).
Nota: podem provocar reacções alérgicas
Néveda – “dor de barriga das mulheres”; dores “tortas” após o parto; dores do reumatismo.
Orégãos – Combatem a tosse, as dores de cabeça nervosas e a irritabilidade (extremidade florida).
Pilriteiro – Estimula a circulação.
Poejo – Eliminar vermes intestinais; facilita a digestão; tranquilizante para distúrbios menstruais.
Nota: é tóxica quando usada em grande quantidade.
Ao sabugeiro ao zimbro
Sabugueiro- Prevenção de gripes (flores); frieiras, mãos e pés frios (pomada de folhas de sabugueiro); desconforto das ressacas (flores).
Salva – Ajuda a digestão, a combater a diarreia (folha); gargarejos para as anginas.
Nota: não deve ser tomado em grandes doses por períodos muito longos
Salsa – Prevenção de perturbações renais; dores de torceduras; mau hálito; picadas de insectos.
Segurelha – Auxiliar da digestão.
Tanchagem – Para tratamento de furúnculos; problemas respiratórios (tosse, bronquite e catarros)
Tomilhos – Tónico digestivo; combate os incómodos das “ressacas”; constipações ou gargantas inflamadas (folha); ferimentos ligeiros; queda de cabelo.
Urtiga – Sangramento do nariz; purificação do organismo; anti-raquítica e anti-anémica.
Zimbro – Para tratamentos de eczemas, dermatoses, psoríase e outras doenças da pele; parasiticida externo (óleo de caule).
Índice terapêutico
Aftas: malva, sálvia
Aleitamento: hortelã
Amigdalite: malva, sálvia, tanchagem
Anemias: agrião
Apetite: alecrim
Arteriosclerose: carqueja
Asma: agrião, carqueja, sálvia, alfazema
Azia: carqueja
Bronquite: agrião, alecrim, tanchagem
Cálculos biliares: hortelã
Cálculos renais: carqueja
Calmante: erva-cidreira, hortelã
Ciática: arruda
Cicatrizante: alecrim
Circulação: alecrim
Cólicas menstruais: alecrim, arruda, poejo, sálvia
Depressão: alecrim, alfazema
Depurativo: carqueja, tanchagem
Diabetes: agrião, alecrim, carqueja, malva
Diarreia: sálvia, carqueja
Digestivo: agrião, alecrim, alfazema, arruda, carqueja, erva-cidreira, hortelã, poejo
Diurético: malva
Emagrecimento: malva
Enxaqueca: alfazema, arruda, hortelã, erva-cidreira
Expectorante: agrião, malva, sálvia
Faringite: sálvia, arruda
Feridas: sálvia, arruda
Fígado: carqueja, erva-cidreira, malva
Flatulência: hortelã, poejo, sálvia, alfazema, arruda, erva-cidreira
Furúnculo: malva, tanchagem
Frieiras: sabugueiro
Garganta: malva, sálvia
Gengivite: malva, sálvia
Gota: arruda, alfazema, carqueja
Hemorróidas: arruda, tanchagem
Hepatite: agrião, alecrim, carqueja
Icterícia: hortelã, poejo
Laxante: carqueja
Menstruação (ausência): agrião, alecrim, arruda, erva-cidreira, poejo, sálvia
Micoses: arruda
Náuseas: arruda
Obesidade: carqueja, malva
Piolhos: arruda, poejo
Pressão alta: alecrim, carqueja
Prisão de ventre: erva-cidreira, hortelã, malva, mancoliais, tanchagem
Queda de cabelo: alecrim, alfazema
Queimaduras: tanchagem
Regulador das menstruações: poejo
Reumatismo: alfazema, carqueja, poejo, sálvia
Sistema nervoso: erva-cidreira
Tosse: agrjões, alfazema, malva, oregãos, poejo, sálvia, tanchagem
Ulceras: alecrim, sálvia
Varizes: pilriteiro, tanchagem
Vias urinárias: carqueja
Vómitos: arruda, erva-cidreira, hortelã
Fonte: Etnobotânica – Plantas Bravias, Comestíveis, Condimentares e Medicinais, de José Alves Ribeiro, António Manuel Monteiro e Maria de Lurdes Fonseca da Silva, João Azevedo Editor, 2000
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