“Não havia máquinas na altura, era tudo à mão, e era assim que se começava”, conta. A realidade é que o sector da hotelaria evoluiu muito, mas quando Adérito começou não existiam as mesmas máquinas que hoje em dia. Entrou assim na hotelaria e não mais saiu deste sector.
Foi subindo de posto, permanecendo no mesmo restaurante e trabalhando sempre para o mesmo patrão, com o qual ainda hoje mantém uma relação de grande proximidade. Com 20 anos teve de regressar a Portugal para cumprir o serviço militar obrigatório, tendo sido colocado na Guiné.
Terminada esta fase da sua vida, a ideia era regressar a Madrid, mas abriu um restaurante em Bragança com quatro sócios, em que uma das quais, conterrânea de Adérito, o desafiou a trabalhar neste novo espaço de restauração. Adérito aceitou, longe de imaginar o que viria a suceder. Uma tragédia fez com que a sócia que o contratou falecesse, levando Adérito a comprar a sua quota no restaurante. Rapidamente comprou as restantes quotas, ficando como único dono do restaurante.
“Foi um processo complicado, apenas com recurso a créditos porque não tinha dinheiro”, lembra. Adérito Martins manteve o restaurante de portas abertas durante 30 anos, até que algumas dificuldades chegaram. A abertura da autoestrada A4 fez desviar vários clientes. No período de maior dificuldade, alguns amigos desafiaram Adérito a emigrar para Paris e pegar num espaço que se encontrava fechado. Assim o fez, tendo emigrado para França em 2002, já depois de ter completado 50 anos de idade. Confessa que o início foi duro, “ninguém falava francês”, mas a união da família e o trabalho de todos fizeram a diferença.
Adérito vingou e hoje já pode descansar um pouco mais, dividindo o seu tempo entre Portugal e os seus três filhos que permanecem em França. Orgulha-se da postura correcta que sempre manteve na restauração, criando assim vários clientes fiéis que mantiveram com o passar dos anos. Nunca descurou o lado benevolente no restaurante, fazendo preços mais acessíveis sempre que é necessário ajudar alguma instituição. Para si, ser português, é um orgulho.
“Sou uma pessoa que, além de ser português com muito gosto, sou muito regionalista. Gosto muito da minha terra, do local onde nasci que, apesar de só ter 27 casas, gosto muito. Ainda vivo lá, fiz lá uma casa. Tenho muito orgulho em ser de Bragança e transmontano”. Ainda assim, Adérito não esquece a França. “Deu-me muito da minha vida é certo, é um país que temos de ter consideração. Mas dentro do coração, Portugal é Portugal”. Aos portugueses, deseja que nunca desmoralizem e que nunca baixem a cabeça, mesmo nos momentos de maior fraqueza.
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