Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
O antigo convento de São Francisco de Bragança estava emoldurado por uma bruma espessa e fria, guardando memórias antiquíssimas e a crença lendária da passagem de São Francisco de Assis por estas terras bravas onde as fragas dão trigo, leite e mel. Aqui se gastaram os frades menores bragançanos a quem D. Afonso III doou, piedosamente, 50 libras no ano da graça de 1271. (…) Os frades cumpriram-se fazendo o bem, mendigando para os famintos, dando corpo e alma à morte, à censura e ao diabo que na quarta-feira de cinzas saía à rua lembrando aos bragançanos que são cinza, pó e nada mais.
O convento capitulou e ainda parece que se ouvem os gemidos dos militares doentes, no delírio da febre, internados no hospital militar que aqui se instalou ao abrigo da misericórdia do espírito franciscano. No século XIX, de má memória para esta cidade imunda e pobre, o velho convento franciscano reconverteu-se no asilo do Duque e Bragança. Órfãs, meninas, filhas de sua mãe aqui encontraram o beijo que faltava, o colo adiado e o pão para a boca. Nas noites de lobos a roda dos expostos gemia dolorosamente e a irmã porteira do asilo recolhia mais uma criatura de Deus que alguém abandonou no recato da noite. Segredos.
Os edifícios são como as pessoas, e dolorosamente carregam a sua história de alegrias e tristezas, de vida e de morte, de amor e traição.
In: A Sacerdotisa da Irmandade
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
Sem comentários:
Enviar um comentário