Prefere andar de trica em trica e de acusação em acusação. Não se pensa, nem se planeia preferindo andar ao sabor do vento e ao gosto das vaidades, convencido que lhe bastam as maravilhas da paisagem e a excelência dos vinhos que quase se pode dizer inevitável mercê das condições naturais e justamente se diga, do que se foi aprendendo.
Ainda recentemente veio para cima da mesa um problema por causa de umas análises científicas feitas a um conjunto de garrafas de vinho do Porto classificado como Tawny de 10 anos feitas na Holanda. Concluíram os cientistas que os vinhos em algumas garrafas não tinham aquela idade e nada tardou que se espalhasse a ideia de que no Alto Douro existe trafulhice e se vende gato por lebre.
Enquanto isso, na região, quase se não soube. Nem uma leve brisa fez mexer uma parra nas videiras, num modo de dizer, já que se anda na poda num ciclo que tudo faz renascer. Poucos ou nenhuns rabos se remexeram nas cadeiras dos escritórios, digo eu, pouco ou nada se falou, ninguém se mobilizou para discutir e esclarecer. Devem ter-se feito uns telefonemas e pouco mais entre quem tem mais escala, mas no resto o assunto passou e estar a passar como se nada houvesse.
No entanto, há coisa e pode ser da grossa. Basta que os burocratas da União Europeia que se preocupam imenso com assuntos do género do calibre dos tomates, e podemos vir a ter o vinho entornado no balsão. Se não houver engenho para lhes fazer ver que um Tawny não é um vinho de um só ano, nada lhes custa obrigar a que assim seja, não se importando com as consequências, pois semelhante medida leva a que se alterem significativamente coisas importantes.
Não me cabe agora aqui dissecar o assunto por não ser este o lugar nem eu a pessoa indicada, mas posso deixar de referir que se calhar houve e há alguma marosca em alguns milhares de garrafas. Algumas podem não conter o tal sol engarrafado de que falava o poeta. Quando muito têm umas réstias por entre as nuvens.
Enquanto pessoa que vai observando de oras em quando, bato na minha e lamento a falta de observação, de atenção e de união que não deixam de grassar por esta nossa abençoada região afora, onde os agentes da fileira do vinho se dedicam quotidianamente a peneirar-se com a beleza dos rótulos, com o nível das cubas e com os ferrolhos dos armazéns feitos adegas do mais moderno que existe.
No Alto Douro felizmente granjeiam-se muito bem as vinhas de onde se fazem vinhos de estala, mas não se cultivam convenientemente os bardos onde podem medrar o se respeitar e o ser-se respeitado. Nem sequer desponta maneira que dê em fruto com espírito de classe. Somente a postura do cada qual por si continua a se enraizar.
Na região deixou-se que a representatividade fosse definhada pela moléstia, mas continua-se a discuti-la feroz e mal-educadamente como se tivesse sido ontem a desdita. Vinte e cinco anos depois, o Titanic na Rua dos Camilos na Régua continua encalhado apesar de ter à porta a estátua de um paladino a apontar o caminho. Aliás pouco falta para que poucos saibam o que foi.
Olhem, nisto tudo perdi-me! Não sei se é da idade ou se é porque a garrafa do Tawny já vai para baixo de meia. Aprecio e sei que contém um lote de vinhos que adquiriu as nuances de um vinho com a idade indicada no rótulo.
Não digo qual é para não causar inveja. Mas por favor organize-se quem tem que se organizar, mobilize-se quem tem que se mobilizar. Digam aos burocratas que por vezes só estorvam, e aos mixordeiros que tenham juízo e não prejudiquem quem está com eles à mesa, seja neste caso se os há, seja em qualquer outra ocasião noutro dia e noutro lugar.
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