Nos tempos em que a televisão era apenas para os muito ricos. Nos tempos em que não existia internet nem dinheiro para ir ao Mac Donald´s nem ao Burger King... nem havia batatas fritas em pacotes, nem havia cinema ou dinheiro para comprar os bilhetes, depois da escola era preciso ter imaginação para estar ativo. E imaginação não nos faltava.
E como brincávamos?!
Uma pedra, um prego dos caibrais e as primeiras chuvadas de Outono, era tudo o que nos faltava para começarmos a escavar nas barreiras de terra que abundavam nas imediações.
O eldorado era quando a água começava a brotar. Tínhamos descoberto uma nascente que cuidávamos todos os dias como se fosse a fonte da vida. A natureza era a nossa companhia amiga. – Já descobri uuuuumaaaa. Os outros vinham ver. Eu estava feliz. Tinha descoberto a primeira nascente do ano. Depois abria-se uma espécie de trilho pela pequena encosta abaixo por onde corria a água até desaparecer algures… por baixo do recreio da Escola.
O Tozé, visionário como sempre, leu num livro qualquer que onde havia quartzo havia ouro.
Quanto cavámos, ali bem perto da escola das Beatas. Muito quartzo mas nada de ouro…ainda hoje lá deve estar a marca das nossas eternas escavações à mão e com pregos daqueles grandes que utilizávamos para jogar ao prego também nas primeiras chuvadas quando o terreno ficava mais molhado.
Quando chovia já não dava para jogar ao bóio, para alegria das rabaças ou pionças, que passavam uma temporada sem ir ao “endireita”.
Pouco ortodoxo era o que fazíamos por vezes no jogo da bilharda quando era praticado sem a luz do dia. O desgraçado que ia a “saber” da bilharda, ao regressar, tinha sempre uma desagradável surpresa no buraco.
Começámos a saber o que era andar de bicicleta quando o velho Soares na Boavista comprou 3 bicicletas que alugava.
20 minutos, custavam duas coroas mas com cinco coroas era uma hora de sprint. Uma hora ou mais.
O A. Teixeira e o C. Meneses eram o terror do Soares. Alugavam as bicicletas por duas coroas e depois nunca mais apareciam. O Soares bem sabia que só lhe restava vir à procura deles. Nada se fazia com má intenção, o tempo era curto e os sonhos eram imensos... Eles nunca apareciam, mas as bicicletas lá ficavam encostadas numa ribanceira qualquer.
Da próxima vez, que aparecessem 5 coroas no bolso, pediam a um dos garotos mais pequenos para irem ao Soares alugar as bicicletas. Eles os dois... tinham de estar uns tempos sem dar sinais de vida lá para os lados da Boavista...
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(Henrique Martins)
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