Até agora, já foram liquidados 17 mil euros, através do “congelamento” da conta bancária da fabriqueira, mas faltam cerca de 14 mil euros que têm de ser pagos nas próximas horas, para evitar a venda da Igreja, que está registada como um armazém adaptado para local de culto.
Já houve uma reunião entre o advogado dos arquitetos, a Diocese de Bragança e o pároco da fabriqueira para se tentar um acordo, que se revelou infrutífero. Ontem, cerca de três dezenas de habitantes do Cachão reuniram e decidiram avançar com um abaixo-assinado para entregar às entidades envolvidas no processo para ainda tentar travar a venda da igreja.
Caso não exista qualquer avanço, no início da semana dá-se início ao procedimento da venda do imóvel com a notificação da comissão fabriqueira, garante Cidália Santos, a agente de execução que, no passado dia 17 de novembro, trocou a fechadura da igreja, depois de ninguém ter aceitado ficar como fiel depositário das chaves daquele templo religioso, agora penhorado, Só dois dias depois, a igreja voltou a abrir portas, após o pároco local aceitar ficar como fiel depositário.
Alarmadas com a situação, 27 habitantes daquela aldeia decidiram, este domingo, avançar com um abaixo-assinado para pressionar as entidades envolvidas no processo a resolver o caso: Câmara, Junta de freguesia de Frechas, Santa Casa da Misericórdia de Mirandela e a Diocese.
Lurdes Freitas, uma das mentoras da iniciativa, confessa que esperava mais gente a aderir a esta reunião:
“Não estou completamente satisfeita porque esperava que houvesse uma maior adesão por parte da população, mas atendendo a que temos uma população envelhecida, entendo que haja dificuldade da parte dos mais velhos em fazerem alguma coisa. Aliás, por vezes têm receio que envolva dinheiro e são pessoas com fracos recursos. É um ponto de partida que nos pode ajudar a evitar o pior, que é ficarmos sem a igreja.”
Lurdes Freitas ainda acredita que a venda seja travada:
“No fundo, estamos a pedir às entidades que estiveram envolvidas nesta dívida que, para além de esclarecimentos, também façam o que estiver ao alcance delas para nos ajudarem em termos judiciais. Neste momento, a urgência é travar este processo. Se não conseguirmos travá-lo, vamos mesmo ficar sem igreja e só nos resta discutir sobre quem foi o culpado.”
Os populares não calam a indignação com o que está a acontecer:
“Para mim, a solução era que o Dr. Silvano, que também se responsabilizou por isso, tentasse fazer alguma coisa, mas isso não está a acontecer. Quando há política, toda a gente vai a casa pedir votos, agora que há problemas ninguém quer responsabilidades.
Isto é uma pouca vergonha e estamos revoltados. O senhor padre Abel chama-lhe armazém mas ele, afinal, não trouxe qualquer benefício a esta população. Prometeu e não cumpriu, foi-se embora e nem pagou. Nas aldeias, a realidade é que o padre manda sempre mais que o povo.
Se os homens tiverem boa vontade tudo é possível e ainda poderemos ir a tempo. Devíamos ter sido alertados há mais tempo para tentarmos arranjar solução.”
O caso remonta a janeiro de 2011, quando o arquiteto diz ter sido consultado pelo Padre Abel Maia, a pedir a elaboração do projeto. O acórdão do tribunal diz ter ficado provada a prestação do serviço e que nunca houve qualquer pagamento.
Entretanto, pela primeira vez, o Padre Abel Maia, que na altura era o representante da fabriqueira, aceitou abordar o assunto, mostrando-se revoltado com as acusações de ser o responsável pela dívida contraída.
O pároco não só descarta responsabilidades como garante que a Diocese de Bragança-Miranda tinha conhecimento e deu aval ao projeto.
O Padre Abel Maia diz ter sido apanhado de surpresa com este assunto, 11 anos depois, garantindo que nunca pediu diretamente ao gabinete de arquitetura nenhum projeto:
“É tudo uma trapalhada que anda prai porque o processo foi feito em consonância com a câmara e, por iniciativa da igreja, nunca contratei projeto diretamente com ninguém.
A fabriqueira não fez diretamente pedido a nenhum arquiteto, fez à câmara para colaborar, e depois esta, quando as coisas estavam feitas, pedia-nos para fazer um papel a dizer que foi pedida colaboração.
Acho muito estranho como é que isso anda aí dessa maneira.”
Abel Maia também considera que os sucessivos membros da comissão fabriqueira, desde então, deviam ter resolvido o assunto e até avançar com a construção da igreja com o apoio do Município. O pároco lembra que a intenção era dotar a aldeia do Cachão com um espaço religioso com alguma dignidade:
“Eu mostrei o projeto à fabriqueira numa reunião, com uma igreja nova e expliquei tudo.
Se a fabriqueira já não se lembra do que faz e do que não fez, claro que às vezes estão presentes mas não é bem a sua responsabilidade.
Faltava depois dar continuidade ao projeto.
Era uma paróquia pouco praticante com condições fracas, típicas de um armazém/barracão. A ideia foi dar alguma dignidade àquele povo.
Lamento que as coisas tenham chegado a este nível.”
O Padre Abel Maia também desmente a versão da Diocese de Bragança-Miranda de que não tinha conhecimento de qualquer projeto:
“Esse projeto, depois de estar feito, foi mostrado à diocese e aos padres encarregados de avaliar se o projeto tinha ou não viabilidade.
Dois padres responsáveis da diocese, da parte do património religioso, viram e disseram que estava bem. Essa foi a última reunião que eu fiz e foi com duas responsáveis da diocese.
Nunca pensei que viesse com essa questão de que a paróquia deve porque não deve nada, a câmara é que suportava os custos. Nós fazíamos apenas ofícios para que a câmara fosse apoiando o que a gente pedia.”
Abel Maia rejeita responsabilidades neste caso da dívida da fabriqueira do Cachão a um gabinete de arquitetura que pode levar à venda da igreja daquela aldeia do concelho de Mirandela.
Um processo que pode vir a ter novos desenvolvimentos nas próximas horas. Resta saber se será possível ainda travar a venda a igreja do Cachão.
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