A igreja de Algosinho (Mogadouro), dedicada a Santo André, é uma preciosidade afastada dos roteiros turísticos o que acarreta em si aspetos positivos no entanto devido a sua pureza estilística e às paisagens que a envolvem são motivos suficientes para merecerem o nosso destaque. Sou grande admirador do estilo românico, essencialmente pela sua simbologia assombrosa e que dão azo a muita imaginação mas que para o homem medieval teria um significado coerente, mas sempre com tributos mágico religiosos.
No distrito de Bragança são 5 os locais de arquitetura românica notáveis, religiosos e civis, que constituem uma rota patrimonial ainda por explorar.
São eles: Igreja de Algosinho (Mogadouro) (**) Igreja de Azinhoso ((Mogadouro) (*); Igreja de São Salvador de Ansiães (Carrazeda de Ansiães) (***); Igreja da Adeganha (Torre de Moncorvo) (**) (ler aqui o texto); Cabeceira da igreja do Mosteiro de Castro de Avelães (Bragança) (*)
É tão velho como a igreja de Algosinho
Como se depreende dos seus portais com o seu arco ogival a igreja já pertencer a um românico tardio, provavelmente do século XIII. O bom povo de Algosinho sempre disse que o templo tem fundação antiquíssima, mas confessa a sua incerteza no anexim mil vezes repetido “É tão velho como a igreja de Algosinho”. Na fachada sob o arco sineiro está representada uma estrela de 6 pontas com o selo de salomão (que neste caso poderá estar relacionada com a presença judaica na região)? Sob ela estão 3 enigmáticas aberturas circulares, a lembrarem olhos. Certo é, que cumprem pelo menos a função de deixar trespassar luz para o interior da igreja. A capela-mor original infelizmente perdeu-se, sendo substituída pela atual, datada de 1797, de planta retangular e ampla iluminação lateral e que tem um retábulo maneirista com pinturas ao gosto quinhentista.
É interessante a cachorrada instalada na cornija da igreja românica de Algosinho, com a sua habitual simbologia, num discurso apocalíptico com figuras humanas deformadas, figuras grotescas de animais, desenhos geométricos, pipas, membros sexuais ou ainda uma lua um touro e o sol, estes consecutivos. Fascinante. Alguns destes modilhões foram repostos no século XX fruto da intervenção efetuada pela Direcção-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, em meados do século XX. Mas melhor que a nossa descrição é a do Abade de Baçal, que nestes textos sobre Trás-os-Montes será companhia assídua deste nosso Portugal Notável. Assim diz o sábio, “…rudes e grotescos alguns, satíricos, obscenos, animalescos e artísticos outros. Caras de homens, cães, porcos, falus e nádegas traduzem no jogo fisionómico o naturalismo sarcástico da arte medieva”. Ao longo das paredes são visíveis diversas siglas, as marcas dos pedreiros que construíram a igreja de Algosinho na época medieval. A frontaria deverá ter possuído um alpendre, restando dele somente quatro mísulas de suporte da cobertura.
O Interior da Igreja de Algozinho
O interior de uma só nave é uma impressionante, pela amplidão (com 9 metros de largura e 24 de comprimento), pelo acentuado declive (que começa logo pela escadaria), pela força da pedra presente nas paredes nas lajes e nos afloramentos graníticos do primeiro piso, pela frescura e pelos arcaicos mas bem lançados três arcos torais. E sempre com a imaginosa dúvida; quem construiu tal maravilha?
As principais obras decorativas do interior datam do século XVI. Aquando do início dos trabalhos de restauro, o arco triunfal era ladeado e encimado por três painéis murais; o superior apresentava-se já em muito mau estado e foi destruído, mas os dois laterais (longamente protegidos por retábulos barrocos entretanto suprimidos) puderam ser destacados e restaurados. Neles se pintaram duas imagens de Santa Catarina e de São Bartolomeu, retratados como “figuras-estátuas” inseridas em nichos. Posterior, da época maneirista, é o retábulo-mor, de secção tripartida e conservando as tábuas originais obra ao gosto da segunda metade de Quinhentos. O primeiro registo mostra a Fuga para o Egipto e a Adoração dos Reis Magos enquanto no segundo registo se reconhece a Anunciação, a Visitação de Santa Isabel e a Adoração do Menino.
Saindo de novo para o exterior, repara-se na paisagem campestre muito bela virada para o planalto mirandês e advinha-se o fosso que construiu o canhão granítico do rio Douro. No adro desta igreja guardavam-se três estelas funerárias romanas, provenientes do termo da aldeia. Do conjunto de quatro estelas recolhidas em Algosinho, duas deram entrada no Museu das Terras de Miranda, onde integram o espólio desta unidade museológica.
Para rematar colocamos a questão, de quem terá sido o responsável pela edificação do templo. Alguns autores relacionam a Igreja de Algosinho aos Templários, mas a sua construção ocorreu na centúria seguinte à entrega do território à Coroa portuguesa. Ficando assim por responder a quem se deve a construção da igreja de Algosinho.
Referencias adicionais: http://www.culturanorte.pt/pt/patrimonio/catedrais-igrejas/igreja-de-algosinho/
Agradecimentos: O Portugal Notável esteve alojado no Solar dos Marcos (Bemposta-Mogadouro) e visitou a igreja românica de Algosinho a convite deste ótimo Hotel Rural que apoia o turismo cultural.
Original AQUI
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