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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 8 de janeiro de 2022

Butelo e casulas no castelo: Bragança celebra símbolos gastronómicos transmontanos

 Ao primeiro olhar é semelhante a outro enchido, mas o butelo só se descobre verdadeiramente depois de ser aberto. É, a par das casulas e dos cuscos, um dos mais dignos representantes da gastronomia de Trás-os-Montes, e pode ser provado até ao final de fevereiro


Ao primeiro olhar é semelhante a outro enchido. Podia ser uma paiola ou um paio tradicional, mas o butelo só se descobre verdadeiramente depois de ser aberto. Lá dentro, carne de porco, costelinhas e ossos do espinhaço, envolvidas pelo bucho ou pela bexiga do animal. Cumprindo o desígnio do aproveitamento completo do porco, o butelo é um dos mais dignos representantes das tradições de Trás-os-Montes e, com as casulas (as cascas do feijão), é protagonista de um evento gastronómico, que anima Bragança durante os fins de semana de 8 de janeiro a 27 de fevereiro.

Na região da Terra Fria, a lareira aquece as mãos arrefecidas pelos invernos rigorosos, é local de reunião, de confeções com panelas de ferro e ajuda a conservar os enchidos resultantes das matanças do porco. O proeminente butelo é um deles. É colocado sobre a fogueira, recebendo o calor e algum fumo para depois se consumir no “Sábado de Carnaval”. Para fazer o butelo, recorre-se ao bucho (e até à bexiga) do porco, recheando-o com ossos do espinhaço e costela de porco de raça bísara, ainda com carnes agarradas. Essas carnes marinam em sal, alho, vinho, água, louro e colorau durante alguns dias. O butelo é o elemento de maior calibre de um prato famoso em Trás-os-Montes, no qual tem a companhia das casulas, ou “cascas”: estas vagens são secas com o feijão no interior, sob palhas e depois ao sol, dispondo-se por exemplo em mantas nas eiras ou varandas das casas, um processo que acaba por ser mais um método de conservação.

Na véspera da confeção, deixam-se as casulas a demolhar. Coze-se o butelo e aproveita-se essa água para fazer o mesmo com as casulas. Numa fase mais avançada da cozedura acrescentam-se as batatas, cenouras e o butelo. Este vai servir aberto e ladeado pelas casulas e os legumes, levando caldo da cozedura e rega de azeite transmontano. Há quem acompanhe com orelheira, outras partes do porco e enchidos.

Prato de butelo com casulas

Butelo no Castelo
Para provar, nada melhor do que rumar até Bragança nos fins de semana entre 8 de janeiro e 27 de fevereiro e aproveitar a iniciativa Butelo no Castelo. A Tasca do Zé Tuga (Tel. 273381358) preparou dois menus especiais dedicados a tão emblemático produto: o “Cozido de butelo”, com a dose individual a custar €20, e uma ementa de cinco momentos, com “Trufa de butelo e casulas”, “Cuscos de butelo e hortelã”, “Caldo do cozido”, “Cozido de butelo”, “Torta de casulas” ou “Leite-creme de casulas”. A experiência custa €40 e inclui vinho e café.

Preparação de cuscos em Trás-os-Montes

Os espantosos cuscos transmontanos
A região de Trás-os-Montes é guardiã de segredos surpreendentes como os cuscos, um produto que se acredita ter sido trazido do Magrebe para a Península Ibérica pelos muçulmanos, à semelhança do que aconteceu com outras rotas que o difundiram pelo mundo. Preserva-se há séculos nesta região e é uma das suas heranças mais genuínas. Em Vinhais, mãos hábeis e pacientes produzem-nos a partir de trigo Barbela. Salpicam a farinha, “torcem-na” formando flocos através de movimentos que não é suposto esmagarem a massa, mas sim “acariciá-la” até se formarem flocos consistentes. Estes grãos passam na “criva”, secam, são envoltos em panos de linho e colocados numa cuscuzeira de lata furada no fundo, que depois fica a ferver sobre um pote de ferro com água. Os cuscos são assim submetidos a uma pré-cozedura a vapor e, quando ela termina, chamam-se “carola” e podem ser degustados simples, com açúcar ou mel e canela. Podem também voltar a secar e aí é preciso “torcerem” de novo. Neste caso, ficam aptos a serem cozinhados e servirem de guarnição em pratos mais compostos, à imagem do arroz. A partir daqui, põe-se a imaginação a funcionar. Podem ser servidos com produtos regionais, como cogumelos silvestres ou enchidos, ou ainda cozer em leite e serem polvilhados com canela, satisfazendo os mais gulosos.

A preservação deste património deve-se à perseverança da população, um esforço reconhecido pela restauração local, que tenta manter “acesa a chama” e inclui cada vez mais os cuscos transmontanos nos seus menus, mesmo com abordagens criativas. Uma das últimas criações dos irmãos Geadas (Óscar e António Gonçalves) no premiado G Restaurante, na Pousada de Bragança (Tel. 273331493), são os “Cuscos de Vinhais com amêijoa pé-de-burro e gamba vermelha”.

Paulo Brilhante

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