Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Por serem do domínio público havia alguns ditos que colidiam com as regras de educação e hipocrisia dos que se consideravam mais severos, mas que eram anulados pela metáfora que era sempre insidiosa.
A miudagem não tinha conhecimento das formas fáceis de consultar um dicionário ou uma enciclopédia como hoje que usando o telefone que trazemos no bolso e do qual nos socorremos sempre que a dúvida nos assalta, resolvemos tudo ou quase tudo.
Assim não me espantava, quando a ouvia dizer para mim, ou para o meu irmão Marcelo: - Um de vós que estais aí, como dois adidos à companhia, vá ao Senhor Raul azeiteiro e traga um abano que este já está mordido e não puxa as brasas que quero vivas para assar as sardinhas. Bate com os calcanhares no cú pois são quase horas do teu pai aparecer e as sardinhas ainda não estão assadas. Ou fazendo prova de um perfeito conhecimento do nosso carácter nos apelidava com os nomes mais insólitos que quem fosse estranho a este tipo de linguagem, se quedaria estupefacto com tão variada recolha que só mesmo no Registo Civil seria possível encontrar.
Assim, Senhor Clemente, -Ermitão de Santa Ladra, Quarteleiro, Salta-pocinhas e milhentos outros que não me vêm à memória e que nos obrigavam a termos de a fitar para havermos a certeza de sermos nós os visados.
Quando algum dos elementos que utilizava para cozinhar era duro, como a carne ou alguns legumes, dizia sempre; este é duro, atira-se com ele contra o Castelo e não se parte. Estava assim a usar o elemento Castelo como fator de resistência e não o que de facto o era pois que a água fervente não era tida em conta e se culpava o Castelo que por ser Velho e resistente era posto em primeiro plano. Sabia ela ditados populares provérbios ou anexins que lhe permitiam expressar-se em sentido figurado, sendo necessário conhecê-la para concluirmos que era do povo e fora educada por gente grada do Bairro de Além do Rio.
A sensatez que nos transmitia peripateticamente foi a mensagem que nos guiou pela vida fora com a sabedoria popular de alguém bem formado e capaz de bem formar os outros.
Aconteceu um dia alguém ter vindo a nossa casa e falando muito seriamente lhe haver proposto qualquer negócio que implicava uma soma avultada de dinheiro. Ela, na sua melhor maneira de estar e calmamente, ripostou: - E onde tenho eu tal capital? -Só se for no Centro Real dos amafanos. A palavra caiu como uma pedra num lago de água parada. Mas nunca me explicou o que eram o "amafanos" e já lá vão sessenta anos e eu não sei onde são os famosos amafanos que a minha mãe propôs como provável local onde seria possível encontrar o capital para realizar tal empresa. Se algum (a) leitor souber o significado deste vocábulo por favor, compartilhe o segredo connosco que agradeceremos por escrito. O vernáculo é brigantino e eu já me havia esquecido dele e hoje veio -me à memória e estou a partilhá-lo convosco.
Às vezes dedico algum tempo às recordações que persistem em serem parte do que conservo do meu tempo de menino. Durante este tempo que mediou entre o que conto e o dia de ontem, creio não me ter recordado uma vez só deste acontecimento a que está ligado este vocábulo que, admito referir-se a parte íntima do corpo. Há sentidos figurados que me fascinam e este é um dos tais.
Quando algum dos elementos que utilizava para cozinhar era duro, como a carne ou alguns legumes, dizia sempre; este é duro, atira-se com ele contra o Castelo e não se parte. Estava assim a usar o elemento Castelo como fator de resistência e não o que de facto o era pois que a água fervente não era tida em conta e se culpava o Castelo que por ser Velho e resistente era posto em primeiro plano. Sabia ela ditados populares provérbios ou anexins que lhe permitiam expressar-se em sentido figurado, sendo necessário conhecê-la para concluirmos que era do povo e fora educada por gente grada do Bairro de Além do Rio.
A sensatez que nos transmitia peripateticamente foi a mensagem que nos guiou pela vida fora com a sabedoria popular de alguém bem formado e capaz de bem formar os outros.
Aconteceu um dia alguém ter vindo a nossa casa e falando muito seriamente lhe haver proposto qualquer negócio que implicava uma soma avultada de dinheiro. Ela, na sua melhor maneira de estar e calmamente, ripostou: - E onde tenho eu tal capital? -Só se for no Centro Real dos amafanos. A palavra caiu como uma pedra num lago de água parada. Mas nunca me explicou o que eram o "amafanos" e já lá vão sessenta anos e eu não sei onde são os famosos amafanos que a minha mãe propôs como provável local onde seria possível encontrar o capital para realizar tal empresa. Se algum (a) leitor souber o significado deste vocábulo por favor, compartilhe o segredo connosco que agradeceremos por escrito. O vernáculo é brigantino e eu já me havia esquecido dele e hoje veio -me à memória e estou a partilhá-lo convosco.
Às vezes dedico algum tempo às recordações que persistem em serem parte do que conservo do meu tempo de menino. Durante este tempo que mediou entre o que conto e o dia de ontem, creio não me ter recordado uma vez só deste acontecimento a que está ligado este vocábulo que, admito referir-se a parte íntima do corpo. Há sentidos figurados que me fascinam e este é um dos tais.
Bragança, domingo, 09/01/2022
A. O. dos Santos
(Bombadas)
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