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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

LUXOS

 A quadra natalícia impele mesmos os carentes de tudo a gastarem o que podem vir a ter, pois a época leva a gestos de inusitada generosidade, a sacríficos dolorosos, até a tragédias como o ilustra Mestre Aquilino Ribeiro em o conto O Cavaquinho. Um lenço de assoar, um par de meias, um boneco enrolado em pano, constituíam luxo luxurioso para quem tinha a ventura de receber essas prendas.
Mas esta crónica desencaixada é uma reflexão relativa a luxos ofensivos na posse da nababos capazes das maiores excentricidades no intuito de serem aceites no restrito, logo exclusivo número de míticos sibaritas a ficarem na história como ficou Assurbanípal, rei da Assíria, o qual ofereceu um ágape para mais de 70.000 convidados onde nos sete dias de duração foram consumidos 1000 bois, 10.000 cordeiros de pasto e de curral, outras iguarias em quantidades gigantescas.
Na minha cidade natal, Bragança, nunca existiram plutocratas desse calibre, mesmo em Portugal contam- -se pelos dedos os argentários que ao longo dos séculos ficaram nos anais dada a sua inclinação para o luxo/luxo. No burgo do Braganção teceram-se vestimentas luxuriantes provindas da indústria da seda, só os membros do clero nos dias Santo e de guarda e da nobreza chupista usufruíam da macieza túrgida dos veludos, dos tafetás e gorgorões. Na minha meninice veio a lume nos lavadouros citadinos que fulano tal possuía mil contos (não de encantar) provocando tal soma enorme admiração, o negociante de batatas e castanhas era milionário!
Ora, há dias o publicista António Araújo glosou no DN uma restrita e requintada festa destinada a 12 convivas, abrilhantada por 120 modelos femininos sem defeito, na qual foram servidas comidas e bebidas dignas do refulgente Petrónio, envolvendo centenas de funcionários e segurança obrigados por escrito a rigoroso sigilo. Só que, o resort de tantas estrelas quantas as do firmamento (passe o exagero) possuía câmaras de filmar, uma fuga de informação obrigou a precipitada debandada dos participantes. Custo da festança: 50 milhões de dólares. O Rei D. João V, que morreu dado ter ingerido lagosta em demasia, escorado no ouro e diamantes do Brasil não acharia caro o dispêndio se o ágape tivesse sido levado a efeito no seu tempo, seria um sinal de luxo lusitano, o acima descrito é um eco de luxo arábico.
Várias obras na área da história e das ciências sociais dedicadas ao luxo explicam o vaivém do luxo, dos muitos milhares de postos de trabalho em consequência da indústria adstrita a tão importante nicho de mercado, só que outras milhares de pessoas sobrevivem esgaravatando no lixo do luxo, ante o estrídulo esbanjar de milhões por poucos. Sem qualquer pretensão moralista, muito menos detentor de virtudes exemplares, a obscena quantia das libações na Arábia excedem os registos neste género de bunga-bunga do multimilionário Berlusconi, mesmo do padrão do marcante luxo asiático. Neste Mundo cão (lembram-se do filme?) a opressão da dissipação gera raivas alterosas (pensemos na Revolução Francesa) conducentes a explosões sociais que nunca sabemos até onde chegam, sabemos, isso sim: as sangrentas consequências.
Caro leitor: faça o favor de desculpar a crónica acidulada em vésperas de Natal, mas se não a escrevesse ficava azucrinado comigo mesmo. A todos quantos têm o hábito de ler os textos da minha lavra e aos elementos do Nordeste Informativo os meus votos de Boas Festas. 

Um voto de saudade em memória de Teófilo Vaz.

Armando Fernandes

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