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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

… No tempo das profecias

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

As cidades são como as pessoas, entardecem e silenciam-se, quando o sol regressa do campo para sua casa amornecido pelo convívio íntimo com as searas que se deitam no colo do vento que passa só por passar…
E as cidades têm ruas e casas, avenidas, becos, gente anónima, gente feliz, gente que morre de tristeza, gente com pão e gente que conta os cêntimos na imensidão dos meses que não têm fim.
As cidades têm loucos que sorriem e bêbados que se embebedam para ao entardecer poderem dizer todas as verdades que nenhum santo disse e gritarem aos transeuntes que acordem e se convertam… o fim do mundo está perto… depois bebem mais e mais no conchego da taberna… que nostalgicamente resiste entre a sueca, o chincalhão e dois copos dos últimos clientes.
As cidades têm gente muito séria que passa pela vida, sem pecado original… vão à missa das seis… ao mês de Maria… à reunião da comissão política do partido… e são gente de bem… e tão felizes... 
…depois morrem… e talvez sorriam… pela primeiríssima vez… talvez sorriam da pasmaceira da vida da gente séria…
As cidades a nordeste envelhecem… e Deus perpassa por entre o silêncio… e um dia as casas… as ruas… os becos… as avenidas serão somente ruas, casas e becos e avenidas… e não haverá nem gente feliz, nem gente triste, nem ricos, nem pobres, nem gente séria… somente a cidade e o silêncio. 
…as silvas e os cardos crescerão por entre as casas, as ruas, as avenidas e os becos… os lobos e as raposas descerão à cidade… e nesse tempo os Senhores, tão sérios, de Lisboa acordarão… assustados…com a evidência das ideias luminosas… é preciso salvar o interior… é preciso combater a desertificação… é preciso…
… nesse tempo… talvez o louco e o bêbado… na sua lucidez, ainda estejam por cá para contar a história.


Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.




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