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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 9 de janeiro de 2022

O regresso às aulas

Por: Fernando Calado
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

O Agosto destemperado já passou. Dos abraços das chegadas e das partidas ficaram as saudades e a promessa de voltar em breve. A cidade serenou sem estranheza como quem repete o fadário doloroso da ausência de pessoas, do abandono das aldeias, desta morte anunciada de silêncios e ruas desertas.
Os estudantes regressam sempre por setembro e a cidade rejuvenesce timidamente, o comércio anima um pouco, e algumas ruas e locais ganham vida.
Os agrupamentos de escolas vão-nos dando a ilusão que há muitos alunos, quando na verdade são poucos, fazendo o somatório de todas as escolas do 1º Ciclo que fecharam. No distrito de Bragança mais de 240 escolas não resistiram à precaridade de alunos. Muitas delas sucumbiram com a dramática realidade de um, ou dois alunos e o professor constituírem a comunidade escolar.
Fecharam as escolas, “mataram” as aldeias. Dizem alguns. Mais foi precisamente ao contrário. “Mataram” as aldeias e fecharam as escolas. O problema da desertificação mantem-se incontrolável. Embora de vez em quando o poder central dê um ar de graça com a reabertura de mais um serviço, a inauguração duma infraestrutura, a vinda dum governante que a propaganda divulga até à exaustão. Mas a política do “fontanário” não chega. É preciso um plano de descentralização dos serviços, uma verdadeira vontade social e política de dinamizar fenómenos e estratégias que incentivem a frágil económica da região.
No ensino secundário a cidade continua galhardamente a exibir três estabelecimentos de ensino, na doce ilusão de haver alunos, conhecimento, progresso. A soma de alunos das três escolas secundárias não chega ao número que o Liceu Nacional de Bragança, ou Escola Secundária Emídio Garcia, já teve numa data recente. Mas o tempo e a implacável contagem dos 4500 alunos que existem no 1º Ciclo, em todo o distrito, vai-nos confrontar com uma realidade que idilicamente tentamos esconder.
Felizmente o Instituto Politécnico continua a atrair estudantes, fruto de programas e protocolos nacionais e internacionais. A cidade está a tornar-se cosmopolita. Desejamos, que esse número avantajado de alunos traga consigo emprego e desenvolvimento sustentado, numa dinâmica de colaboração técnica e científica com as empresas e com os cidadãos.
Na verdade perdeu-se o sentir romântico dos estudantes de Bragança. Há muito que Bragança deixou de ser “Coimbra em miniatura”, no dizer de Santa Rita Xisto. Há muito que se perdeu a galhardia dos alunos do 5º, ou 7º ano do Liceu que de capa e batina ombreavam com os estudantes universitários de Coimbra. Mas nesse tempo, ser estudante do Liceu, ou da Escola Industrial era sinónimo de mobilidade social e de emprego garantido como prémio dum estudo aturado durante cinco, ou sete anos.
Dolorosamente as nossas escolas estão a formar para o desemprego, para a desmotivação, para um caminho sem futuro, salvo raras e honrosas exceções.
O professor perdeu a autoridade perante a enormidade de alunos por turma que não veem um sinal de esperança no final do percurso escolar. A família, em muitos casos, também não está a ajudar, protegendo até ao infinito os filhos, em detrimento do estatuto do professor. Enquanto a família e a escola não fizerem as “pazes” não haverá educação.
Parece que ainda estamos a ouvir Trindade Coelho contar quando a velha criada Helena o entregou ao austero professor primário:  “Muito bons-dias. Lá de casa mandam dizer que aqui está a encomendinha. Oh! Oh! A encomendinha era eu, que ia pela primeira vez à escola. Ali estava a encomendinha! – Está bem, que fica entregue.”
Não queremos encomendinhas nas nossas escolas, mas também não queremos filhos que não respeitam a autoridade democrática do professor e confundem liberdade com libertinagem a coberto de alguns pais que estranhamente entendem que os seus filhos só têm direitos e não têm deveres. Educar para a cidadania só é possível se a escola e a família colaborarem na função maior de educar no presente para garantir um futuro harmonioso e civilizado dentro dos princípios democráticos em que todos temos direitos, mas também temos deveres.

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 

Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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