Em meados do século XX, em Torre de Dona Chama, eram vários os oficiantes na venda de peixe, de porta a porta, sendo o mais habitual a sardinha, daí o nome de sardinheiros. A venda não se cingia à Torre. Distribuíam-se, também, pelas aldeias vizinhas chegando a percorrer mais de vinte quilómetros, a pé, com a caixa de vinte e cinco quilos no ombro ou posta por cima de uma rodilha na cabeça. Cada sardinheiro tinha a sua zona de actuação.
Vida duríssima desta gente que, bem antes dos primeiros raios de sol, ia buscar as caixas encomendadas ao Ti Manuel Guerra, albardeiro de ofício e ponto de entrega do pescado. De Matosinhos até Mirandela e depois pela estrada de Mascarenhas até Torre de Dona Chama, se fazia o percurso deste tão desejado conduto.
Rica e fresca sardinha era anunciada em pregões pelas ruas, animando num colorido as gentes de casa e os transeuntes.
Nas famílias numerosas uma sardinha era repartida por dois ou três filhos, consoante a condição económica.
À época, a sardinha era a mais vendida por ficar em conta, mas o bacalhau era o rei dos pobres. Também se vendia, em dias de nomeada, polvo, chicharro, pescada e congro.
Ti Maria Calhelhos, sobressaia nos pregões por ter dificuldades em articular palavras, sofrendo de dislalia provocada pelo aparelho fonador. Quando lançava o pregão dizia assim:
- Quem compa pecada feca? Leia-se: - Quem compra pescada fresca?
Já o congro punha o povo em aprazimento de tanto rir a bandeiras despregadas, tendo chegado até aos dias de hoje a lembrança de tão engraçado pregão:
- Quem compa cono feco? Leia-se: - Quem compra congro fresco?
O povo, na sua malandrice, para dar mais ênfase ao pregão e puxar risada geral, em vez de repetir tal como era dito por Ti Maria Calhelhos “cono feco” alterou-o para “cona feca”.
Esta sardinheira tinha por áreas de venda a Torre e os Vilares, aldeia anexa da freguesia.
Um dia, regressando da venda, repara em risinhos, próprios de amores em folia, vindos de dois vultos numa bela seara de cevada, sendo quase tempo de ceifa. A curiosidade foi forte e chamou por si. Aproximou-se lentamente; escondeu-se atrás de uma moita; e de soslaio foi inteirar-se do que ali se passava. Era imperioso tirar a história a limpo.
Vida duríssima desta gente que, bem antes dos primeiros raios de sol, ia buscar as caixas encomendadas ao Ti Manuel Guerra, albardeiro de ofício e ponto de entrega do pescado. De Matosinhos até Mirandela e depois pela estrada de Mascarenhas até Torre de Dona Chama, se fazia o percurso deste tão desejado conduto.
Rica e fresca sardinha era anunciada em pregões pelas ruas, animando num colorido as gentes de casa e os transeuntes.
Nas famílias numerosas uma sardinha era repartida por dois ou três filhos, consoante a condição económica.
À época, a sardinha era a mais vendida por ficar em conta, mas o bacalhau era o rei dos pobres. Também se vendia, em dias de nomeada, polvo, chicharro, pescada e congro.
Ti Maria Calhelhos, sobressaia nos pregões por ter dificuldades em articular palavras, sofrendo de dislalia provocada pelo aparelho fonador. Quando lançava o pregão dizia assim:
- Quem compa pecada feca? Leia-se: - Quem compra pescada fresca?
Já o congro punha o povo em aprazimento de tanto rir a bandeiras despregadas, tendo chegado até aos dias de hoje a lembrança de tão engraçado pregão:
- Quem compa cono feco? Leia-se: - Quem compra congro fresco?
O povo, na sua malandrice, para dar mais ênfase ao pregão e puxar risada geral, em vez de repetir tal como era dito por Ti Maria Calhelhos “cono feco” alterou-o para “cona feca”.
Esta sardinheira tinha por áreas de venda a Torre e os Vilares, aldeia anexa da freguesia.
Um dia, regressando da venda, repara em risinhos, próprios de amores em folia, vindos de dois vultos numa bela seara de cevada, sendo quase tempo de ceifa. A curiosidade foi forte e chamou por si. Aproximou-se lentamente; escondeu-se atrás de uma moita; e de soslaio foi inteirar-se do que ali se passava. Era imperioso tirar a história a limpo.
O vento que a seara ondeava,
Aos amantes alvoroçava!
E neste resvalar de amores
Subia a paixão em fervores!
Até que repicam os sinos,
Entoando forte seus hinos.
Oh, Céus, Glória e embriaguez!
Restam estirados em placidez.
Ti Maria seguiu caminho até à Torre e deixou o assunto ficar como estava.
Nove meses depois, a rapariga pariu uma bela criança. A família, depois de lhe dar uns bons apertões para saber quem era o facínora de tal desonra, foi confrontar o rapaz. Este negou-se, veementemente, a dar o seu nome ao filho. O pai da moça, descontente com o sucedido, levou o rapaz à barra do Tribunal de Mirandela.
Quem se apresentou como testemunha?
Ti Maria Calhelhos.
O Juiz perguntou-lhe o que sabia do caso e ela contou, assim, a sua versão:
- Senhol Doutol Juiz: a seala ondulaba; o bento lebantou o folo da saia; biu-se a pena da lapaliga; e o lapaz buliçou-se. Se o Doutol Juiz, tamem, bisse, não buliçaba?
(- Senhor Doutor Juiz: a seara ondulava; o vento levantou o folho da saia; viu-se a perna da rapariga; e o rapaz alvoroçou-se. Se o Doutor Juiz, também, visse, não se alvoroçava?)
Dito isto o Juiz, de cara cerrada e expressão de indignação pelo atrevimento, remata:
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